JOVEM BALEADA POR PRF, ESTAVA EM CARRO COM PELÍCULA DE VIDRO 100%. UM PERIGO OU UMA SEGURANÇA?
Criada para reduzir o calor e aumentar o rendimento do ar-condicionado dos carros, a película protetora usada nos vidros dos carros, aos poucos ganhou status de item de segurança, para evitar assaltos ou furto do interior do veículo. Principalmente para as mulheres, que se escondem e podem passar despercebidas. E para gente que quer, ou precisa, ficar invísivel, como jogadores de futebol, celebridades da TV e até mesmo políticos.
Mas, de acordo com especialistas, em determinadas situações a película, conhecida como insulfilm, pode colocar em risco a segurança dos ocupantes do carro.
O site da Insulfilm informa que o produto além de ajudar a diminuir o calor no interior do veículo, ajuda a proteger os ocupantes. A película impede que, em caso de acidentes, todo o vidro se estilhasse. Ela também serve de reforço para os vidros em impactos leves.
Em duas semanas ocorreram duas mortes de inocentes, em abordagens feita por policiais, durante a noite, a carros com a película. Na noite 6, na Tijuca, na Zona Norte do Rio, o menino João Roberto foi baleado e morto por PMs que confundiram o carro de sua mãe com o de criminosos. No dia 14, PMs revidaram disparos feitos por um dos ocupantes de um carro, em São Cristóvão, na Zona Norte. O administrador Luiz Carlos Costa, que estava como refém no carro, foi morto.
Vidros escuros levantam suspeitas
Perito examina carro de administrador, que mesmo com a película não evitou que ele fosse assaltado e morto numa abordagem da PM (Foto: Dório Victor/ G1)
Segundo o coordenador de Vias Especiais, major da PM José Mauro de Farias, se as normas para a utilização de películas nos vidros dos carros fossem respeitadas, os riscos seriam menores. Ele diz que os ocupantes de um veículo com uma película muito escura acabam mais expostos que protegidos.
“A película muito escura, fora das normas do Contran, não protege. Ao contrário, um carro com os vidros muito escuros levanta suspeitas. Sem falar, que ela atrapalha a visibilidade, principalmente à noite, o que aumenta a possibilidade de um acidente. Se a lei fosse respeitada, e mantido os índices aprovados de transparência e luminosidade, haveria como identificar quantas e quem são as pessoas que estão no carro”, ressaltou major Farias.
Para o major, o ideal seria uma película mais clara como orienta o Contran. De acordo com a resolução, a transmissão luminosa da película protetora deve ser de 75% no pára-brisa, 70% nos vidros laterais e pára-brisas coloridos e 28% para os vidros traseiros dos carros.
Curiosidade atiçada
Película dificultou a identificação dos ocupantes do carro da família do menino João Roberto (Foto: Reprodução TV Globo)
Especialista em segurança no trânsito, a pedagoga Cíntia Amianti, diz que por causa da violência nas grandes cidades como Rio e São Paulo, a película é usada para evitar furtos no interior dos veículos ou para tentar proteger os ocupantes dos carros de assaltos e seqüestros.
“As pessoas acham erradamente que quando não estão sendo vistas estão mais protegidas. Mas pesquisas mostram que às vezes os carros com os vidros filmados atraem mais a atenção dos criminosos. Além do mais, como quem está do lado de fora vê apenas vultos no interior do carro pode interpretar qualquer movimento como uma tentativa de reação. E aí, as conseqüências podem ser trágicas”, ponderou Cíntia, que é coordenadora de treinamento da Condu Treinamento Especializado em Segurança no Trânsito, de São Paulo.
O engenheiro de produção Wanderley Batista, que usa película escura em seu Focus, contou que ao trocar de carro, fez questão de que ele tivesse a proteção. Principalmente, porque quem mais usa o carro é sua mulher para levar os filhos à escola.
“Uma mulher dirigindo sempre fica mais vulnerável. O insulfilm deixa eles mais protegidos. Acho que os bandidos preferem atacar quem está mais exposto. Mas diante desses casos recentes, é um caso a se pensar se é mais seguro andar com ela ou não”, calculou o engenheiro.
Falsa sensação de segurança
Película atrapalha a visão de quem está dentro do carro e dá falsa sensação de segurança, diz especialista. (Foto: Alba Valéria Mendonça/ G1)
Mas segundo Cíntia, o insulfilm a sensação de segurança que o insulfilm dá é falsa. Ela compromete inclusive a visão que o motorista pode ter do retrovisor da aproximação de pessoas suspeitas.
“Uma das regras básicas de segurança no trânsito diz que o motorista tem de ver e ser visto. Com a película muito escura isso não acontece. Ela foi criada para reduzir o calor no interior do carro e aumentar o rendimento do ar-condicionado. Se fosse para proteger alguém, seria à prova de balas. Aí, até eu ia querer uma no meu carro”, disse Cíntia.